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Ho’oponopono além da superfície: A sabedoria ancestral por trás da responsabilidade e do perdão

Meu primeiro contato com o Ho’oponopono foi através do livro Limite Zero, de Joe Vitale. Na época, achei a ideia fascinante, mas também um tanto estranha. Como poderiam quatro frases simples ter tanto poder? Movida por curiosidade e esperança, pratiquei bastante, mas confesso que não senti mudanças significativas. Talvez uma certa leveza, mas nada que me fizesse crer em milagres.

Como “santo de casa não faz milagres” — e meu marido, cético por natureza, não era fã dessas “coisas espirituais” —, acabei nem comentando sobre a técnica com ele. Até que, algum tempo depois, aconteceu algo inesperado. Ele estava fazendo um curso de finanças com um professor que tinha uma visão holística, abordando não só investimentos, mas também abundância, saúde e paz interior. Para minha surpresa, meu marido comprou um livro sobre Ho’oponopono!

Não só leu como releu, aplicando a técnica com a seriedade e o foco que ele dedica a tudo na vida. Na época, ele enfrentava desafios em várias áreas: trabalho, saúde e até nosso relacionamento em casa. O que aconteceu depois foi impressionante — tão marcante que, se eu não tivesse visto de perto, talvez duvidasse.

A transformação foi visível. As situação no trabalho melhou, ele começou a cuidar da saúde com mais determinação, nosso convívio em casa se harmonizou, voltou a fazer coisas que gostava e havia abandonado e, como consequência, a leveza e o bom humor voltaram. Foi um marco importante na vida dele. Hoje, quando olho para trás, vejo que o Ho’oponopono não só funcionou para ele, mas também me mostrou que, às vezes, a mudança exige mais do que repetir palavras — exige entrega, intenção e, quem sabe, o momento certo.

Origens e história do Ho’oponopono

Os antigos povos havaianos, enxergavam a vida como uma rede interconectada de relações, onde os conflitos, doenças e desafios eram vistos como reflexos de desequilíbrios internos e externos que precisavam ser corrigidos para restaurar a harmonia.

Originalmente, o Ho’oponopono era um ritual coletivo de reconciliação, conduzido por um kahuna (sacerdote ou curador espiritual), que atuava como mediador entre as partes envolvidas em um conflito para limpar ressentimentos, promover o perdão mútuo e restabelecer o equilíbrio familiar ou comunitário. A crença fundamental era que tudo está interligado, e a desarmonia em um indivíduo poderia afetar toda a tribo ou família.

O processo tradicional incluía momentos de oração, reflexões sobre as ações passadas, confissões de erros, pedidos de perdão e rituais de purificação. O Ho’oponopono não apenas buscava resolver desavenças, mas também prevenir futuras desarmonias, garantindo que a energia do grupo fluísse em harmonia.

Com a modernização do Havaí e a influência de culturas ocidentais, as tradições espirituais havaianas passaram por transformações. O Ho’oponopono foi adaptado para diferentes contextos, mantendo sua essência, mas tornando-se mais acessível para o mundo contemporâneo. Uma das figuras mais importantes nessa transição foi Morrnah Nalamaku Simeona (1913-1992), uma kahuna reconhecida que reformulou a prática para que pudesse ser realizada de forma individual, sem a necessidade de um mediador.

Morrnah introduziu o conceito de que cada pessoa é 100% responsável por sua realidade, e que a cura dos problemas externos começa dentro de nós. Seu método envolvia a repetição de orações e afirmações para limpar memórias inconscientes que bloqueiam o bem-estar. Essa abordagem inovadora atraiu grande atenção e abriu caminho para a difusão global do Ho’oponopono.

A transição para a abordagem individual moderna

A prática ganhou ainda mais notoriedade com o trabalho do psiquiatra havaiano Dr. Ihaleakalá Hew Len, discípulo de Morrnah. Ele tornou-se amplamente conhecido pelo caso em que utilizou o Ho’oponopono para tratar um hospital psiquiátrico no Havaí, onde criminosos com transtornos mentais eram internados. Em vez de interagir diretamente com os pacientes, Dr. Hew Len aplicava o método em si mesmo. Com o tempo, a energia do local mudou, e muitos pacientes foram reabilitados ou transferidos. Esse relato gerou grande interesse pelo Ho’oponopono fora do Havaí, popularizando-o como uma ferramenta de autocura e limpeza energética aplicável a qualquer situação da vida.

Hoje, o Ho’oponopono é amplamente praticado ao redor do mundo, sendo adotado por pessoas de diversas culturas como um caminho para a cura emocional, libertação de traumas e conexão com um estado mais elevado de consciência. Apesar de sua simplicidade, a profundidade dessa prática reside no seu poder de transformação interna, permitindo que cada indivíduo assuma a responsabilidade pela própria vida e atue como agente de mudança da própria realidade.

Princípios fundamentais do Ho’oponopono

1. A responsabilidade pessoal 

Diferente do que muitos pensam, assumir responsabilidade não significa culpa. No Ho’oponopono, não há culpa, apenas a consciência de que tudo o que vemos ao nosso redor é reflexo do que existe dentro de nós. A ideia dos 100% de responsabilidade nos convida a reconhecer que o que aparece em nossa vida tem uma conexão conosco, mesmo que à primeira vista pareça algo externo e alheio. Segundo essa filosofia, os desafios, conflitos e situações negativas que vivenciamos são reflexos de memórias compartilhadas com outras pessoas, que podem ter origem nesta ou em outras vidas. Assim, se algo surge em seu caminho, significa que há algo em você que precisa ser purificado. O ato de limpar não é sobre culpa, mas sobre reconhecer que, de alguma forma, estamos vibrando em sintonia com aquela situação. Por isso, em vez de julgar ou resistir, a prática nos ensina a aceitar e transformar. Ao repetir as frases “Sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Sou grato(a)”, estamos pedindo perdão não apenas por nós mesmos, mas também pelos nossos ancestrais, limpando padrões inconscientes e permitindo que a harmonia retorne.

2. Perdão e reconciliação

O Ho’oponopono ensina que muitos dos bloqueios emocionais e desafios da vida vêm de memórias antigas, algumas herdadas de nossos ancestrais. Guardamos ressentimentos, dores e padrões que se repetem como um ciclo. O perdão, nesse contexto, não é sobre “absolver” outra pessoa, mas sim libertar-se do peso da mágoa e da resistência interna.

Quando dizemos “Me perdoe”, estamos pedindo perdão às nossas próprias memórias por terem criado situações de sofrimento. É um ato de reconhecimento e abertura para a cura.

E quando dizemos “Eu te amo”, estamos enviando energia de amor para transformar e limpar esses registros emocionais. É um lembrete de que o amor é a ferramenta mais poderosa para dissolver conflitos e restaurar a harmonia.

3. Memórias

No Ho’oponopono, acredita-se que as memórias são registros energéticos que carregamos no subconsciente e que determinam a forma como enxergamos e reagimos ao mundo. São como programas automáticos que se repetem sem que percebamos.

Por exemplo, se você sempre encontra dificuldades financeiras, pode ser que uma memória inconsciente esteja te levando a repetir padrões de escassez. Se relacionamentos amorosos não fluem, talvez memórias antigas de abandono ou rejeição estejam influenciando suas experiências.

O processo não exige que você descubra quais memórias exatas estão causando o problema. Apenas a prática da limpeza, com fé e constância, já começa a dissolver esses registros e permitir que novas possibilidades surjam.

A prática moderna do Ho’oponopono

O Ho’oponopono evoluiu de sua forma tradicional – onde um ancião mediava reconciliações comunitárias – para se tornar uma ferramenta íntima de transformação pessoal. Essa versão contemporânea mantém a essência sagrada do método, porém com uma abordagem mais acessível: agora podemos praticar a qualquer momento, trabalhando diretamente na limpeza de nossas memórias e padrões emocionais.

Depois de experimentar várias versões, descobri que começar com a oração de abertura faz toda a diferença e criei esta adaptação:

“Divino Criador, pai, mãe, filho em um…

Se eu, minha família, meus ancestrais ou relacionamentos

Ofendemos ou desrespeitamos você (as leis) através de

pensamentos, palavras, sentimentos ou ações

Desde o início da criação até o presente

Eu sinto muito e peço que me perdoe

E limpe, purifique e cure em mim

Todas as memórias, bloqueios, energias e vibrações negativas que compartilho com (dizer o nome e/ou descrever a situação)

E transmute estas energias indesejadas em pura luz…

E assim está feito.”

Esta oração não é apenas um começo ritualístico, ela cria uma conexão consciente com o Divino, reconhece a teia de relações que nos conectam, abrange todas as dimensões de nossas experiências e ativa o processo de transformação.

As quatro frases que mudam tudo

Depois dessa abertura do coração, as conhecidas frases ganham nova profundidade e poder transformador quando pronunciadas com intenção genuína:

1️ “Sinto muito.” – Eu reconheço e aceito a responsabilidade por estar ecoando hoje memórias de dor do passado. Eu digo “sinto muito” para as forças do universo, para as pessoas envolvidas e para mim mesma por estar repetindo padrões inconscientes (Reconhecimento e responsabilidade)

2️ “Me perdoe.” – Eu digo “me perdoe” tanto para as forças do universo, para todas as pessoas que eu possa ter ferido ou ofendido, como para mim mesma, por estar repetindo padrões inconscientes de memórias negativas compartinhadas (Humildade e liberação)

3️ “Eu te amo.” – Como força unificadora e curativa, eu digo “Eu te amo” tanto para a força criadora do universo, como para mim mesma (Cura e reconexão)

4️ “Sou grato.” – Pela cura que já está em movimento  (Aceitação e completude)

Versão expandida da oração

“Divino Criador, Pai, Mãe, Filho, todos em Um. Se eu, minha família, meus parentes e antepassados, ofendemos suas leis em pensamentos, fatos ou ações, desde o início da criação até o presente, nós pedimos o seu perdão. Deixe que isso se limpe, purifique, libere e corte todas as memórias, bloqueios, energias e vibrações negativas. Transmute essas energias indesejáveis em pura luz e assim é.

Para limpar o meu subconsciente de toda carga emocional armazenada nele, digo uma e outra vez, durante o meu dia, as palavras-chave do ho’oponopono: eu sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato. Declaro-me em paz com todas as pessoas da Terra e com quem tenho dívidas pendentes.

Por esse instante e em seu tempo, por tudo o que não me agrada em minha vida presente: eu sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato. Eu libero todos aqueles de quem eu acredito estar recebendo danos e maus tratos, porque simplesmente me devolvem o que fiz a eles antes, em alguma vida passada: eu sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato.

Ainda que me seja difícil perdoar alguém, sou eu que pede perdão a esse alguém agora. Por esse instante, em todo o tempo, por tudo o que não me agrada em minha vida presente: eu sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato.

Por esse espaço sagrado que habito dia a dia e com o qual não me sinto confortável: eu sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato. Pelas difíceis relações às quais só guardo lembranças ruins: eu sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato.

Por tudo o que não me agrada na minha vida presente, na minha vida passada, no meu trabalho e o que está ao meu redor, Divindade, limpa em mim o que está contribuindo para minha escassez: eu sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato.

Se meu corpo físico experimenta ansiedade, preocupação, culpa, medo, tristeza, dor, pronuncio e penso: “minhas memórias, eu te amo. Estou agradecido pela oportunidade de libertar vocês e a mim”. Eu sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato.

Neste momento, afirmo que te amo. Penso na minha saúde emocional e na de todos os meus seres amados. Te amo. Para minhas necessidades e para aprender a esperar sem ansiedade, sem medo, reconheço as minhas memórias aqui neste momento: eu sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato.

Amada Mãe Terra, que é quem eu sou: se eu, a minha família, os meus parentes e antepassados te maltratamos com pensamentos, palavras e ações, desde o início da nossa criação até o presente, eu peço o teu perdão. Deixa que isso se limpe e purifique, libere e corte todas as memórias, bloqueios, energias e vibrações negativas. Transmute essas energias indesejáveis em pura luz e assim é.

Tornando o Ho’oponopono um ritual vivo

A verdadeira magia dessa prática acontece quando a integramos organicamente à vida, como ato consciente de amor próprio e cura. Eis algumas formas de vivê-la com profundidade: Em momentos de turbulência emocional: Quando a ansiedade ou irritação surgirem, pause. Coloque a mão no coração e sussurre as frases, permitindo que cada palavra ressoe verdadeira em seu ser; Diante de desafios específicos: Visualize a situação difícil envolvida em luz enquanto pratica. Não busque controlar o resultado – apenas confie no processo de purificação; Integrado às atividades cotidianas: Transforme momentos simples – como lavar louça, tomar banho ou esperar no trânsito – em oportunidades silenciosas de cura interior.

O Ho’oponopono é um processo contínuo de limpeza interna. Às vezes, os resultados são rápidos e visíveis; outras vezes, a transformação acontece de maneira sutil, mas profunda. O mais importante é não desistir. Cada repetição das frases é como uma gota d’água purificando um oceano de memórias acumuladas ao longo da vida. Aos poucos, você perceberá que sua mente fica mais leve, sua intuição mais afiada e sua realidade começa a mudar de maneira surpreendente.

Considerações críticas e limitações

Apesar da popularidade do Ho’oponopono como técnica de cura emocional e espiritual, é importante abordar suas limitações e questionamentos. Um dos principais pontos é a escassez de estudos científicos robustos que comprovem sua eficácia. Embora práticas semelhantes, como meditação e atenção plena, tenham ampla validação em pesquisas, o Ho’oponopono não possui ampla validação em estudos clínicos controlados. Seus princípios dialogam com áreas consolidadas da psicologia: o perdão (estudado na psicologia positiva), a autorresponsabilidade (abordada na terapia cognitiva) e a gratidão (com comprovados benefícios emocionais), porém a ciência ainda investiga seus mecanismos específicos. 

Embora o Ho’oponopono possa ser uma ferramenta útil para autoconhecimento e equilíbrio emocional, não deve ser visto como substituto para tratamentos convencionais em casos de transtornos psicológicos ou condições médicas. Integrá-lo a terapias estabelecidas será de grande valia e potencializará os resultados dos tratamentos aplicados.

Além disso, a disseminação global do Ho’oponopono trouxe interpretações superficiais e distorções de seu significado original. A simplificação exagerada pode levar a uma compreensão equivocada, desvinculada de sua profundidade cultural e espiritual. A comercialização da prática também levou a promessas exageradas, como “cura instantânea” ou “solução mágica para todos os problemas”, o que pode gerar frustração quando as expectativas não são atendidas.

Se você se sente chamado a experimentar o Ho’oponopono, faça-o com respeito à sua origem e significado. Entenda que não é uma “fórmula mágica”, mas um caminho de autoconhecimento e limpeza emocional. Cada “Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grato.” é um passo em direção à libertação de velhas dores, memórias e padrões que já não servem. Mas essa libertação exige honestidade consigo mesmo e disposição para olhar de frente para as próprias sombras.

Que tal, então, fazer uma pausa e refletir? O que em sua vida pede perdão — seja para ser dado ou recebido? Quais pesos você ainda carrega que poderiam ser dissolvidos com compaixão? O Ho’oponopono nos lembra que a paz começa dentro de nós, e que assumir responsabilidade pelas nossas experiências é o primeiro passo para transformá-las.

Andréa Moreira

Sou bióloga e ecóloga, apaixonada pela conexão entre o ser humano e a natureza. Como redatora autodidata, integro terapias energéticas, neurociências e física quântica para promover consciência do potencial humano. Acredito que, ao reconhecer seu valor, o ser humano vive em harmonia consigo, transforma suas relações e cuida da sua relação com o planeta, promovendo um futuro mais equilibrado e sustentável.

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