Por muitos anos, vivi o dilema de ser alguém com múltiplos interesses, paixões e habilidades, mas sem conseguir encontrar um caminho claro. Sempre soube que minha conexão com a natureza era algo especial—sentia-me em casa caminhando por trilhas, observando tempestades, o pôr do sol, o vôo dos pássaros e o ritmo silencioso das plantas. Mas o mundo ao meu redor parecia não oferecer espaço para esse tipo de sensibilidade. Trabalhei no mundo corporativo por quase 15 anos e sempre me senti como um peixe fora d’água.
Enquanto tentava encontrar meu caminho, a vida seguiu seu curso. A rotina de mãe, os afazeres domésticos, a sensação de estar presa e sem autonomia me deixaram emocionalmente comprometida. Eu queria estudar, aprender mais sobre a relação entre corpo e mente, energia e vibração—e ensinar tudo isso a outras pessoas. Mas a falta de organização e foco me fez sentir incapaz e incompetente. Por anos, fiquei paralisada, me sentindo uma mosca presa na cola da armadilha.
Foi quando descobri que não havia nada de errado comigo: eu era multipotencial. A dificuldade de escolher um único caminho não era um defeito, mas uma característica que poderia ser transformada em força. Com a ajuda de uma mentora de mulheres multipotenciais, enxerguei que não precisava me encaixar em uma única identidade, mas sim aprender a estruturar minhas habilidades e interesses de forma equilibrada.
Neste post, quero compartilhar essa jornada e explorar os desafios e as maravilhas de ser uma mulher multipotencial na vida moderna. Afinal, talvez a resposta não esteja em escolher um único caminho, mas em aceitar que podemos ser muitas em uma só.
O que é ser multipotencial?
Enquanto os especialistas dedicam-se profundamente a uma única área, buscando conhecimento e excelência específica, os multipotenciais preferem explorar uma variedade de campos. Eles possuem uma curiosidade insaciável, aprendem com facilidade e encontram satisfação na diversidade de experiências e no aprendizado contínuo. Essa abordagem ampla permite que multipotenciais integrem conceitos de diferentes áreas, oferecendo soluções únicas e perspectivas inovadoras. No entanto, podem enfrentar desafios relacionados à falta de foco ou à pressão social para escolher uma única carreira.
Isabele Moreira, empresária, professora e mentora, transita por áreas como marketing, influência, vendas, criatividade, produtividade e sagrado feminino. Ela utiliza suas experiências e conhecimentos diversos para auxiliar outras mulheres a desenvolverem seus potenciais e alcançarem independência financeira, demonstrando que a multipotencialidade é uma força poderosa, permitindo contribuições em múltiplos campos, além de inspirar as futuras gerações a abraçarem suas diversas paixões.
Os desafios da mulher multipotencial
Ser uma mulher multipotencial é maravilhoso, mas nem sempre é fácil. Durante anos, senti como se estivesse constantemente dividida entre múltiplos interesses e responsabilidades, tentando dar conta de tudo e, ao mesmo tempo, me perguntando se algum dia encontraria um caminho claro. A sociedade nos ensina que precisamos escolher uma única carreira, nos especializar, seguir um trajeto linear — e, para quem é multipotencial, essa cobrança pode ser sufocante.
Quando tudo parece demais
Explorar diversas áreas é empolgante, mas também pode ser desgastante. Já me vi sobrecarregada tentando equilibrar estudos, casa, filhos e minhas próprias paixões. Queria aprender, criar, ensinar, mas sempre havia algo mais urgente para fazer. Cuidar da casa, levar e buscar filhos, organizar tudo — e, no meio disso, tentar encontrar tempo e energia para me reinventar. O resultado? Um desgaste físico e emocional, como se eu estivesse constantemente correndo, mas sem chegar a lugar algum.
Autossabotagem e síndrome da impostora:
Eu olhava para pessoas que seguiam carreiras lineares e pensava: “Será que estou errada por querer explorar tantos caminhos?” Eu me interessava por diferentes áreas, fazia cursos, estudava, me aprofundava — mas nunca me sentia “boa o suficiente” em nada. Por muito tempo me senti incapaz, incompetente e insuficiente. A síndrome da impostora me fazia acreditar que, por não ser especialista, eu não tinha o direito de ensinar ou compartilhar o que sabia.
O mundo parece ter sido feito para especialistas. Quando alguém pergunta “O que você faz?” e a resposta não é algo simples e direto, vem aquele olhar confuso. Já me senti deslocada tantas vezes por não ter uma única resposta.
Quando tudo chama a atenção ao mesmo tempo
Se eu pudesse, passaria o dia inteiro estudando coisas novas, testando habilidades diferentes, aprendendo e ensinando. Mas a realidade é que precisamos priorizar. E essa, talvez, seja uma das maiores dificuldades de quem é multipotencial. Como escolher o que focar? Como decidir qual caminho seguir quando todos parecem interessantes? Durante anos, essa indecisão me paralisou. Eu começava algo, depois via outra possibilidade e pulava para outro lado, sem conseguir criar uma base sólida para avançar.
Felizmente, hoje entendo melhor a minha natureza e sei que ser multipotencial não é um defeito — é um dom. Mas aceitar isso e aprender a lidar com os desafios não foi fácil. Encontrar mentores e compreender que existem estratégias para viver bem com essa característica fez toda a diferença na minha trajetória.
Se você também se sente assim, saiba que não está sozinha. Há um caminho possível para quem deseja abraçar sua multipotencialidade sem abrir mão de equilíbrio e realização.
Estratégias para equilibrar a multipotencialidade na rotina
Se tem uma coisa que eu aprendi na marra sendo multipotencial, é que, se a gente não se organiza, acaba se afogando nas próprias ideias e indecisões. Por muito tempo, tentei fazer mil coisas ao mesmo tempo, pulando de um projeto para outro sem terminar nenhum. O resultado? Frustração, muita frustração, cansaço e aquela sensação de estagnação. Além disso, a falta de organização e foco, a autocobrança, insatisfação e o excesso de frustração, me causaram um dequilíbrio emocional paralizante. Eu me sabotava, acreditando que se não fizesse aquilo a dor e a frustração seriam menores. Mas quando comecei a mudar algumas coisas, percebi que dava para manter minha essência exploradora sem me perder no meio do caminho. Vou compartilhar aqui algumas estratégias que me ajudaram e que podem fazer sentido para você também.
Organização: Planejar o dia faz toda a diferença
Já tentei aquela abordagem do “vou fazendo conforme dá”, e posso garantir: não dá. A gente precisa de uma estrutura mínima para não ficar rodando em círculos. Algo que me ajudou muito foi planejar o dia com mais detalhes. Não precisa ser algo engessado, mas definir horários para as coisas básicas – afazeres da casa, tempo para a família, momentos de estudo e, principalmente, tempo para focar em um projeto de cada vez.
Outra coisa: nada de tentar mudar tudo de uma vez! Eu já fiz isso e só me frustrei. O segredo é fazer pequenas mudanças, ajustar aos poucos, sem pressa e sem pausa, como diz Lúcia Helena Galvão. Escolha algo para melhorar e vá incorporando devagar. Funciona muito melhor!
Conectar os pontos: Como encaixar seus interesses sem se perder
Se você também já sentiu que seus interesses são um quebra-cabeça impossível de montar, eu te entendo. Por muito tempo, achei que precisava escolher um só caminho e abandonar o resto. Mas aí percebi que, em vez de tentar cortar partes de mim mesma, o melhor era encontrar o que conecta tudo isso.
Pergunte-se: qual é a essência do que me move? Muitas vezes, nossos interesses têm um ponto em comum. No meu caso, tudo gira em torno de consciência, transformação e sustentabilidade. Isso me ajudou a dar mais sentido às minhas escolhas, sem precisar abrir mão do que amo.
Saber dizer “não” e estabelecer limites
Se tem algo que eu já fiz muito foi dizer “sim” para tudo e todos, me sobrecarregar e acabar sem tempo (nem energia) para o que realmente importava para mim. Isso é algo que aprendi da pior forma. Então, se você sente que está sempre apagando incêndios e deixando seus projetos para depois, talvez seja hora de começar a dizer “não” com mais firmeza.
E mais: não tente abraçar o mundo de uma vez! Escolha um projeto e vá até o final antes de começar outro. Eu sei que a vontade de mergulhar em tudo ao mesmo tempo é enorme, mas acredite: quando a gente foca, as coisas andam muito mais rápido do que quando espalhamos energia para todos os lados.
Acredite na sua própria música
Eu sempre busquei aprovação. Queria que os outros entendessem meus caminhos, validassem minhas escolhas. Mas a verdade é que ninguém pode te dar essa validação, só você mesma. Como dizia Wayne Dyer, você tem uma música única dentro de você – e só você pode tocá-la.
Então, pare de esperar que os outros aprovem o que você faz. Siga seu próprio ritmo, confie no seu processo. E se bater aquele medo de não ser boa o suficiente, saiba que autoestima, ingrediente fundamental nesta receita, é reconhecer o seu valor. Se necessário, busque ajuda para trabalhar sua autoestima.
A multipotencialidade como força
Por muito tempo, achei que eu tinha um problema. Eu via pessoas que escolheram uma carreira e seguiram nela por décadas, enquanto eu me interessava por mil coisas ao mesmo tempo e sentia que nunca me encaixaria. Me sentia completamente perdida, com sensação de “tempo perdido”, olhando tantas áreas diferentes, sem saber se um dia eu ia conseguir juntar tudo isso em algo que fizesse sentido.
Mas e se, em vez de ver isso como um problema, eu começasse a enxergar como uma vantagem?
Ser multipotencial significa ter um repertório vasto de experiências e conhecimentos. A gente não enxerga as coisas de uma forma única e linear – e isso é poderosíssimo, nós conseguimos conectar pontos de áreas diferentes e trazer soluções inovadoras.
Se tem algo que ser multipotencial me ensinou, foi a importância de não pensar como todo mundo. Nossa capacidade de transitar entre diferentes áreas faz com que a gente tenha ideias novas, veja soluções onde outros veem problemas e consiga enxergar conexões improváveis.
Isso significa que você não precisa escolher um único rótulo para definir quem você é. Na verdade, quanto mais abraçamos nossa diversidade de interesses, mais conseguimos trazer algo único para o mundo.
Se antes eu me preocupava por não ter “um caminho fixo”, hoje eu vejo que minha força está justamente nessa diversidade. E se você também se sente assim, te convido a mudar o olhar sobre isso. Em vez de tentar se encaixar, que tal começar a ver a riqueza que há em ser exatamente quem você é?
Ser multipotencial não é um desvio, é um caminho próprio. E quanto mais você reconhece isso, mais você aprende a fazer disso a sua maior força.